ANÁLISE: No Olho do Tornado

13 09 2014

Rua deserta em uma área residencial. Noite. Um grupo de amigos dentro de um automóvel. De repente, ao longe,  a iluminação pública vai se apagando progressivamente, extinguindo-se os pontos luminosos no alto dos postes até entendermos claramente o que está acontecendo. E os ocupantes do carro também o descobrem, só que tarde demais: um tornado se aproximava.

A cena inicial de No Olho do Tornado ilustra muito bem toda a sua esquemática. O que o roteiro do novato John Swetnam (Evidências e Ela Dança, Eu Danço 5) não apresenta em ousadia, o diretor Steven Quale (responsável pela direção de Premonição 5, além da parceria recorrente com James Cameron como assistente de direção 2ª unidade em Avatar e Titanic) compensa nos ótimos efeitos visuais das cenas de ação alucinantes. Gary (Richard Armitage, de Capitão América: O Primeiro Vingador, mas que também surge novamente como Thorin, Escudo de Carvalho nesse ano em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos), viúvo, não tem um relacionamento considerado ideal com seus filhos, Donnie e Trey (respectivamente Max Deacon, de Reflexos da Inocência e da minissérie Hatfields & McCoys, e Nathan Kress, o Freddie Benson da série teen iCarly) . O três se preparam para o evento da formatura no colégio do qual o pai é o vice-diretor, enquanto os dois meninos serão responsáveis pela filmagem do evento. Pela parafernália eletrônica no quarto deles, sabe-se de antemão que filmar não é um mero hobbie para eles.

Aproximando-se da cidade está um grupo de caçadores de tornados em uma má fase profissional, pois já há algum tempo que não registram nenhuma tempestade substancial. O líder deles, Pete (Matt Walsh, Se Beber Não Case e Ted) deposita a culpa desse infortúnio em Allison (Sarah Wayne Callies, de Visões de um Crime, mas mundialmente reconhecida pelo trabalho em The Walking Dead), a graduada da equipe responsável por prever os fenômenos e, de preferência, o local exato onde eles ocorrerão. Para auxiliá-los,  Titus, um veículo robusto anti-tornado, capaz de resistir às maiores rajadas de vento já registradas pelo homem para colocar os seus ocupantes, literalmente, dentro do olho do tornado. Fechando as três linhas principais da história temos os amigos de Donk (Kyle Davis, A Morte Pede Carona e Prenda-me se For Capaz), que não sentem nenhum receio de estarem próximos de um furacão de grandes proporções.

Para justificar os pontos de vista exibidos, No Olho do Tornado recorre a mania mundial de todos filmarem tudo a todo momento. Um simples celular já é o suficiente para captar algo, não sendo necessário nenhum outro equipamento profissional. Natural, portanto, que ao longo do filme o foco transite entre o tradicional em terceira pessoa e as câmeras que os personagens portam, passando inclusive pelo uso de câmeras de segurança e até por um enfoque jornalístico fictício.

Essa alternância é o que longa tem de mais cativante, exigindo uma preocupação maior com os efeitos digitais, pois muitas vezes o espectador se vê muito próximo das áreas de destruição e de suas consequências e nesse aspecto o diretor não decepciona. Podemos até não gostar das decisões triviais dos personagens que conduzem fracamente a trama – como aquela que põe Donnie e sua nova colega Kaitlyn (Alycia Debnam Carey) para longe da escola -, mas No Olho do Tornado chega, com muita competência, a um novo patamar no que se refere às cenas de destruição em um filme-catástrofe, criando aqui algumas sequências emblemáticas, memoráveis e de tirar o fôlego. O longa também se beneficia ao se preocupar menos com as questões científicas e mais em convencer e impactar quem o assiste, em tornar crível aquilo que é evidenciado, independentemente das suas possibilidades aqui no mundo real.

Dentre outras virtudes, John Swetnam tem a boa vontade de não se contentar com apenas um, mas incluir três clímax em sua conclusão, uma adição muito bem vinda e muito bem executada de adrenalina. Para não dizer que tudo é perfeito, além das motivações fracas de alguns de seus personagens principais já citadas, No Olho do Tornado falha nas (poucas) inserções de humor na história e não consegue desvencilhar do batido e velho altruísmo americano, o clichê dos clichês em filmes do gênero. Mas com a intensa dose de aflição com que se sai da sala de projeção, isso é facilmente relevado.

NOTA: 4/5





Passou pelo cinema…

28 09 2013

O objetivo desse post é retirar o Universo E! um pouco do atraso de suas atualizações em relação ao cinema. Você poderá ver, por exemplo, que os filmes destacados e comentados aqui já saíram há uns bons dias dos cinemas e não gostaria de perder as anotações que fiz na época sobre cada um deles.

O que está posto a seguir não são as “Análises” propriamente ditas, a sessão mais frequentada e mais buscada por quem nos lê, mas acho válido elencar aqui os aspectos gerais das produções que estiveram em cartaz de meados de julho para cá, que será justamente o tema desse e dos próximos posts a seguir, comentados em geral ou em particular na sessão “Análises”.

Espero que gostem!

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CÍRCULO DE FOGO – Guillermo Del Toro (Hellboy e O Labirinto do Fauno) nos confirma que um típico filme blockbuster pode sim ter uma boa história e não basear-se apenas em ação e explosões.

Ciente do público alvo de sua história, a introdução consegue posicionar os seus personagens na trama e apresentar sua mitologia de forma rápida e sucinta. O surgimento dos Kaiju, monstros gigantes que surgiram das profundezas do Pacífico; a dificuldade da humanidade em derrotá-los em suas primeiras aparições até a criação dos Jaegers, um programa de defesa baseados em robôs gigantes, tal qual o seu adversário.

Tamanha dificuldade em controlá-los que eram precisos dois pilotos para guiar os robôs gigantes em ataque, o que só era possível através de neuro-conexão entre eles. Essa divisão de memórias cria um bom conflito emocional em seu ato principal, onde Raleigh (Charlie Hunnam, Filhos da Esperança e da série Sons of Anarchy) precisa ensinar a sua nova parceira, Mako Mori (Rinko Kikuchi, de Vigaristas, Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood e do ainda inédito Os 47 Ronins), a dominar as suas lembranças para que, juntos, possam mostrar o verdadeiro valor dos Jaegers. Os robôs passaram a ser desacreditados após uma fatalidade ocorrer com o irmão de Raleigh, Yancy Becket (Diego Klattenhoff, Depois da Terra e Xeque-Mate).

Se toda a trama principal tem o seu valor e consegue despertar o interesse do espectador, por outro lado, o núcleo utilizado como alívio cômico não é bem sucedido em seu propósito. Sempre que esse recurso é utilizado em cena, surge em tela momentos que destoam do bom grau de verossimilhança atingido pela trama principal. Entretanto, alguns desses mesmos personagens apresentam um valor narrativo, pois é justamente a partir deles que a história adquire um ritmo de urgência ainda maior com uma experiência para obter um conhecimento mais amplo sobre os monstros das profundezas oceânicas, mas que acabam fortalecendo-os inesperadamente.

Desvendando mais alguns segredos que se encaixam perfeitamente na mitologia estabelecida, o desfecho final  só não empolga mais ao trespassar o limite do aceitável ao se aproximar inconsequentemente do megalomaníaco, diminuindo (assim como o dito núcleo cômico) toda a natureza real criada habilmente até aqui.

P.S.: um acréscimo importante – o compositor indiano Ramin Djawadi (responsável pelas trilhas sonoras de Game of Thrones e Prison Break) realiza um trabalho excepcional na trilha sonora. Canções que lembram muito as trilhas de Transformers, Avatar e da trilogia O Senhor dos Anéis, sem perderem, contudo, os seus traços originais numa mistura gostosa e eclética entre a guitarra, a batida eletrônica e a música clássica. Ramin merece toda uma maior atenção maior em seus trabalhos futuros.

NOTA: 4/5

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O HOMEM DE AÇO – Os filmes sobre super-heróis tendem a fracassar como estrutura e como filmes relevantes num futuro não muito distante. E o fracasso virá ainda mais rápido se os estúdios continuarem a apostar nessa fórmula de reboot com o foco apenas em bilheteria.

A todo o momento, eles apostam em um novo super lançamento de um determinado personagem, num looping interno, mesmo com poucos anos (cinematograficamente falando) entre a antiga e a nova franquia. É o que se constata nesse novo O Homem de Aço; é o que se viu no lançamento recente do último O Espetacular Homem-Aranha e é o que se verá no novo Super-Homem com a participação de Ben Affleck (re)vivendo o homem-morcego no Batman vs Superman, previsto para 2015.

Até quando o fôlego e o entusiasmo dos fãs manterá essa nova tendência da indústria de Hollywood? Torçamos, para o bem dela, que seja por pouco tempo. Não quero ver uma nova leva de filmes baseados nos componentes de Os Vingadores, a partir de 2025 por exemplo.

Esse é o mal que sofre O Homem de Aço. Pouco adianta acrescentar novos detalhes no mundo de Krypton; criar novas explanações para o S no peito de Clark Kent, encarnado agora pelo apenas regular Henry Cavill (Imortais e Stardust – O Mistério da Estrela); inserir novos detalhes em paisagens e cenários já largamente usados em todas as outras mídias em que a história dele foi contada.

O desânimo geral aumenta ainda mais com a relativamente longa de introdução do longa de Zack Snyder (diretor de 300 e Sucker Punch: Mundo Surreal). O envio do último cidadão de Krypton à um planeta distante devido as circunstâncias nada promissoras em sua terra natal, todos já sabem de cor e salteado. Seria preciso muita criatividade para acrescentar algo de interessante aqui e em O Homem de Aço, claramente, não a temos! E a suposta traição de seus pais – vividos por Russell Crowe (Os Miseráveis e Gladiador) e Antje Traue (Pandorum e 5 Dias de Guerra) – para com Krypton ao enviar o recém-nascido Kal-El para cá é o combustível para a vingança do general Zod (Michael Shannon, de O Abrigo e Vanilla Sky) e o motivo pelo qual o vilão volta suas preocupações para a Terra.

A longa permanência da história em Krypton em seu início obriga os responsáveis pelo roteiro – escrito por Daniel S. Goyer e Christopher Nolan, dupla também responsável pelo roteiro da trilogia de O Cavaleiro das Trevas – a abordarem a infância e juventude do agora Clark, assim como o seu convívio com os Kent’s -Kevin Costner (Os Intocáveis e O Mistério da Libélula) e Diane Lane (Jumper e Mar em Fúria) – ao longo do filme através de flashbacks. O início do relacionamento dele com Lois Lane, a apagada Amy Adams (O Vencedor e Prenda-me se for Capaz), sua batalha na Terra contra Zod (que realmente impressiona com a magnitude e ritmo alcançados) carecem de algo novo que possa verdadeiramente despertar uma atenção maior do espectador. Não há algo novo ou surpreendente que torne  O Homem de Aço inesquecível. Ou até mesmo um bom passatempo.

NOTA: 2/5

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SEM DOR, SEM GANHO – A maior surpresa dessa nova produção de Michael Bay (dos Transformers e Armageddon) é não se situar num gênero específico. Você sai da sala de cinema sem compreender se o que acabou de assistir é uma comédia, um drama ou um filme de ação/suspense. E, possivelmente, desmantela qualquer concepção que alguém possa ter feito antes de assisti-lo.

O drama está aí. A ação e o suspense também. A comédia ainda mais: desde aquela cena sucinta ou criativamente elaborada até a mais escatológica das cenas típicas dos besteróis que só Hollywood tem capacidade de fazer, sem desmerecer em nenhum momento a história que vem sendo contada. Em meio a tudo isso, Sem Dor, Sem Ganho ainda consegue construir com propriedade sua própria tese política sobre a sociedade americana, em particular, e a ocidental como um todo, mesmo que esse não seja um dos seus principais objetivos.

Se essa descrição pura e simplesmente consegue resumir a receita para um fracasso total de uma realização para o cinema, é justamente a junção de aspectos tão contraditórios entre si que fazem este filme valer a pena.

A começar pelo trio de protagonistas com Daniel Lugo (Mark Wahlberg, Um Olhar do Paraíso e Ted), Paul Doyle (Dwayne Johnson, Velozes e Furiosos 5, 6 e do próximo 7 e O Escorpião Rei) e Adrian Doorbal (Anthony Mackie, Guerra ao Terror e Os Agentes do Destino), onde seus atores encontram-se inspiradíssimos em suas atuações ao retratar o inconformismo de seus personagens com suas respectivas vidas, grande parte delas dentro de uma academia de ginástica. Esse é o grande motim que desencadeia tantas situações hilárias e absurdas.

Assim passam a arquitetar uma forma de sequestrar um milionário frequentador dessa academia e aluno do Daniel Lugo, Victor Kershaw (Tony Shalhoub, o eterno Monk), e se apossar de toda sua fortuna. Sem muita experiência no ‘ramo’, o plano infalível do trio parada dura segue aos trancos e barrancos, baseando-se sempre no esquema tentativa-e-erro. Mais erros do que tentativa propriamente dita, que por uma série de fatos insanos, tal trambique consegue funcionar milagrosamente.

Mas por não saberem o exato ponto onde parar e a ambição põe tudo o que conquistaram (criminosamente) a perder.

NOTA: 4/5








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Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

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