ANÁLISE: Gonzaga – De Pai pra Filho

20 11 2012

A cinebiografia é um dos gêneros mais difíceis de realizar no cinema. Condensar a história de vida de um personagem e distribui-la ao longo de um roteiro com um ritmo agradável não é tarefa para qualquer um.

Infelizmente, Gonzaga – De Pai pra Filho entra pro rol das cinebiografias que não conseguem desempenhar bem sua função. Numa montagem episódica e extremamente cansativa, Gonzaga só consegue melhorar na parte final, mesmo com a sábia decisão de concentrar a narrativa no relacionamento complicado entre pai e filho. Toda a história se desenrola a partir da discussão entre um Gonzaguinha adulto e um Gonzaga que não repetia o sucesso de outrora, dando espaço para os principais fatos da vida dos dois.

A vida sofrida no sertão de Exu, interior de Pernambuco, a descoberta da aptidão de Gonzaga com a sanfona, o nervosismo da primeira apresentação em público, a conquista aos poucos do cenário musical nordestino, as paixões juvenis, o nascimento do primeiro filho, a mudança para Petrópolis no Rio de Janeiro, o deslanchar da carreira em nível nacional. Todas essas passagens são pontas soltas no roteiro, que não apresenta nenhuma continuidade entre elas. Um grande exemplo para isso tem-se a introdução abrupta da personagem Helena na trama: em três cenas, a personagem de Ana Roberta Gualda (pode ser vista também em Polaroides Urbanas) passa de fã, para funcionária e em seguida já é a esposa de Gonzaga. Um imediatismo mal construído que prejudica a experiência audiovisual!

Por outro lado, um humor comedido, pontual e oportuno destaca as melhores passagens da trama como a realização de uma turnê de trinta dias logo após o casamento e o estabelecimento de todo o imaginário ao redor da banda de Gonzaga com a contratação de um anão e um sapateiro. A boa caracterização dos personagens não causa nenhuma estranheza ao espectador, resultado de uma ótima composição de figurino/maquiagem dos protagonistas vividos em três fases na tela: o rei do Baião tem como intérpretes Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adelio Lima, enquanto Alison Santos, Giancarlo di Tomazzio e Julio Andrade (O Homem que Copiava e Meu Tio Matou um Cara) são os responsáveis por levar o Gonzaga filho na tela.

Sem dúvida, a dinâmica excepcional entre Gonzaga (Adelio Lima) e Gonzaguinha (Julio Andrade) – especialmente no último ato -, consequência já dita aqui, da ausência do pai no crescimento e na educação do filho, é o melhor que a cinebiografia tem a apresentar. O isolamento era tudo o que Gonzaga oferecia ao seu primogênito: seja na nova família com a qual nunca convivera bem, seja internando-o num colégio interno para livrá-lo dos problemas e da influência do tráfico de entorpecentes. Com todos os problemas iniciais apresentados é muito mais que bem-vinda essa a melhora na parte final, coroada com a emocionante humildade apresentada por Gonzaguinha em dividir o seu palco com o pai!

NOTA: 3/5


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Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

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