NABAT (Azerbaijão, 2014) – Antes de tudo, essa mulher é uma verdadeira guerreira. Com o marido Isgender adoentado, Nabat assume a tarefa que mantem a humilde casa em que vivem: ordenhar diariamente a vaca (a única posse expressiva que possuem) e levar o leite até a vila mais próxima (mas distante) para o responsável que fará a venda efetiva do produto. Essa é a tarefa retratada pelo longo e belíssimo plano-sequência que abre a produção, retratando uma tortuosa, íngreme, irregular e comprida estrada de terra percorrida todos os dias por esta senhora.
Se as circunstâncias dificultam e muito a vida de Nabat, barulhos incessantes de explosões ecoam do outro lado das montanhas que cercam o local, anunciando a proximidade de uma guerra. Os dois perderam o filho no conflito e pelo mesmo motivo também eles ficam totalmente isolados a medida que os moradores vão abandonando o vilarejo. Solidão que se agrava com a morte do marido. Emocionante acompanhar os esforços dela para enterrá-lo sob a chuva e, em seguida, notável a cena da silhueta negra de Nabat, da vaca e carroça ao horizonte num entardecer espetacularmente amarelo.
Nabat conta com elegantes movimentos de câmera enquanto testemunha o sofrimento de uma mulher que se mantem presa às atividades que se repetem, se repetem e se repetem: todos os dias a senhora percorre a mesma estrada para acender as lamparinas nas janelas das casas abandonadas, uma sugestão feita pelo finado marido para afastar os animais selvagens dali. Algo que faria e fez até o fim de sua vida.
NOTA: 5/5
JIA ZHANGKE, UM HOMEM DE FENYANG (Brasil, 2014) – O documentário brasileiro vai até a China revelar os bastidores e as inspirações de Jia Zhangke na produção de seus filmes, uma das mais importantes cinematografias chinesas.
Com a inclusão de várias cenas de seus longas (como Plataforma, Um Toque de Pecado, Em Busca da Vida, Dong, entre outros), a produção constrói um importante gancho para a realização das entrevistas que ocorrem no mesmo local das locações, trazendo amigos, familiares e parceiros dos sets de filmagem de longa data. O mesmo ocorre nos locais por onde o cineasta chinês cresceu (uma antiga prisão de Fenyang que foi transformada em uma série de moradias), viveu (um bairro inteiro a ser demolido devido ao ímpeto imobiliário da China) ou estudou (a admiração que os estudantes da Academia de Belas-Artes na China).
O documentário de Walter Salles capta muito bem a humildade de seu homenageado que não assume a áurea do estrelato mesmo ciente da sua importância para o Cinema, tanto chinês quanto mundial, e retorna com muita simplicidade às origens da sua vida, lidando novamente com as pessoas que o auxiliaram, artística e tecnicamente, em sua carreira. A produção, no entanto, ganharia mais ritmo se algumas cenas fossem encurtadas ou até mesmo excluídas da versão final.
NOTA: 3/5
ILUSÃO (Espanha, 2013) – Daniel Castro é um roteirista (ou um vendedor de ilusões) que ainda não emplacou nenhum projeto importante no cinema, dispensa qualquer trabalho que a televisão possa lhe oferecer devido à má qualidade dos programas ali apresentados e extremamente mimado! Sem nenhuma fonte de remuneração em vista, ele considera muito mais fácil pedir dinheiro emprestado para os pais (até a partir do momento em que estes se recusam a ajuda financeira) e prefere que sua namorada arque com as despesas do aluguel do apartamento em que vivem. Tudo em nome de sua liberdade criativa.
Liberdade que Daniel tem até demais, perdendo a noção do ridículo na hora de escrever e apresentar os seus trabalhos. Ilusão até que consegue fazer algumas graças como a implicância do protagonista com a filmografia de Michael Haneke ou ao citar a obsessão de James Cameron com 3D. Mas todas as outras piadas são tolas e provocam um risinho de canto de boca.
Nem a história em si que preenche os seus (felizmente) poucos 70 minutos atinge lá um grau de originalidade, previsível desde o seu segundo ato. A torcida durante a sessão é para que o filme seja objetivo o suficiente para resolver a sua história o mais breve possível. Pelo menos isso ele consegue.
NOTA: 2/5